O objetivo desse post é demonstrar o seguinte resultado de Álgebra Linear, que usamos o tempo todo mas que frequentemente não paramos para provar.
Teorema: Sejam um espaço vetorial de dimensão finita sobre um corpo infinito e tome subespaços vetoriais. Então, é um subespaço de se, e só se, um dos ‘s contém todos os outros.
Antes de prová-lo, vejamos a consequência do Teorema que nos interessa.
Corolário: Sejam um espaço vetorial de dimensão finita sobre um corpo infinito e tome não nulos. Então, existe tal que para todo .
(Uma versão desse resultado é um exercício do Hoffman-Kunze.)
Para provar esse Corolário, consideramos os subespaços . É preciso mostrar que , e fazemos isso supondo o contrário. Então, é um subespaço vetorial de , e pelo Teorema isso significa que, para algum , para todo . Portanto, , ou seja, . Como supomos cada , obtemos um absurdo.
(Para quem não sabe, a gente usa esse Corolário para produzir elementos regulares e completamente regulares em álgebras de Lie semissimples. No primeiro caso, os funcionais considerados são as raízes, e no segundo as diferenças entre elas.)
Demonstração do Teorema: Imediato. Se para algum , então podemos excluir o subespaço da lista pois ele não contribui para a união . Logo, podemos supor, sem perda de generalidade, que . Vamos provar que para todo . Seja , e tomemos qualquer. Como é subespaço e , então para todo Logo, para cada , ou ou
para algum
Como , então para cada podemos escolher tal que , em que para cada . (Isso porque Consideremos o polinômio , e notemos que seu termo dominante é . Com isso, é não nulo de grau , e portanto possui uma quantidade finita de raízes. Como é infinito, segue que existe tal que , i.e., tal que para todo , i.e., tal que . Portanto,
Por fim, como e , temos QED
(No caso em que é algebricamente fechado, dá para fazer uma demonstração bem curtinha desse Teorema usando a noção de redutibilidade de uma variedade algébrica. Mas isso envolve o Nullstellensatz e, honestamente, é usar canhão para matar mosca.)
Considerações finais.
- Obtive essa prova tentando emular a demonstração, mais simples, do caso (que também vale para corpos finitos). Nessa situação, é um subespaço e o argumento envolvendo polinômios é desnecessário: se e , então implica e obtemos imediatamente que Por outro lado, quando tentamos generalizar isso para , esbarramos no problema que, em geral, não é subespaço, e pode não estar em (e frequentemente este é o caso).
- Como contraexemplo, temos o espaço vetorial sobre (o corpo finito) . Tomando , e , é imediato que são subespaços e que
- Para provar o Corolário diretamente, procede-se de maneira análoga à demonstração do Teorema, mas a passagem com anuladores não é necessária, o que faz com que o Corolário valha mesmo que
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