Conheço dois artigos sobre os grupos fundamentais das variedades flags. Um adota uma abordagem algébrica (K.D. Johnson: The structure of parabolic subgroups. J. Lie Theory, 14 (2004), 287-316.) e o outro uma abordagem topológica (M. Wiggerman: The fundamental group of a real flag manifold. Indag. Mathem. N.S. (1), (1998), 141-153.) Aliás, ambos os artigos são relativamente recentes.
A abordagem algébrica consiste no seguinte: o flag maximal é G/MAN e a componente conexa da identidade do subgrupo parabólico minimal é (M_0)AN, onde M_0 é a componente da identidade de M. Se G é simplesmente conexo então G/(M_0)AN também é simplesmente conexo, o que implica que a fibração G/(M_0)AN —> G/MAN é o recobrimento universal do flag G/MAN. Sua fibra M/M_0 é o grupo fundamental do flag. Em outras palavras o grupo das componentes conexas de M, quando G é simplesmente conexo, é o grupo fundamental do flag maximal. Então, o que é feito no artigo do K.D. Johnson é descrever o grupo M e, portanto, M/M_0 em cada um dos casos. Ele faz tudo caso a caso e a dificuldade maior fica no caso das álgebras excepcionais. Isso porque a realização dos grupos é mais complicada. Por exemplo, no caso da álgebra sl(n,R) o grupo M/M_0 é isomorfo ao grupo que ele chama de D_n, que não é abeliano, mas é dois passos nilpotente: o quociente pelo centro é abeliano. O caso n=3 é fácil explicitar. O recobrimento universal de SO(3) é SU(2), que por sua vez é a esfera unitária (S^3) do espaço dos quatérnions. Nesse caso é fácil encontrar M (que é discreto). Ele é o grupo {±1,±i,±j,±k}. Em geral M/M_0 não é abeliano (ao contrário do que acontece em grupos complexificaveis, isto é, grupos reais que são mergulhados em grupos complexos).
Em principio essa abordagem algébrica só dá o grupo fundamental do flag maximal. É posível (mas, não imediato) extender isso aos demais flags, olhando quais as componentes conexas de M que interceptam os demais subgrupos parabólicos. Isso não foi feito no paper do Johnson. Eu comecei a fazer e fechei alguns casos.
A abordagem topológica do artigo do Wiggerman usa um teorema geral sobre o grupo fundamental de um complexo CW: o grupo fundamental é gerado pelas células de dimensão um módulo as fronteiras das células de dimensão dois. Nos flags (qualquer um) as decomposições celulares naturais são dadas pela decomposição de Bruhat em que as células são nomeadas pelos elementos do grupo de Weyl. Nesse caso o melhor é tomar a decomposição de Bruhat dada pelas órbitas do grupo N^+: existe uma única célula de dimensão zero, que é a origem. As células de dimensão um são as dadas pelas reflexões em relação às raízes simples que têm multiplicidade um. As células de dimensão dois são de duas naturezas: as dadas por produtos de reflexões em relação às raízes simples de multiplicidade um e as dadas por raízes simples de multiplicidade dois. E assim por diante. Com isso, no artigo do Wiggerman ele fez contas concretas e determinou os geradores e as relações dos grupos fundamentais.
O que fica claro dessa abordagem topológica é que os grupo fundamentais dependem apenas das raízes simples de multiplicidade um. Em particular, os flags de grupos complexos são simplesmente conexos, pois as raízes têm multiplicidade dois (a dimensão complexa dos espaços de raízes é um…). Menciono uma outra coisa. No livro do Knapp, quando ele trata das componentes conexas de M, aparece um subgrupo que é denotado pelo subíndice ‘split’, que é gerado pelas raízes de multiplicidade um. A subálgebra-subgrupo gerada pelas raízes simples de multiplicidade um é uma subálgebra dessa ‘split’. Verifiquei os diagramas e vi que em alguns casos ela é própria, isto é, a subálgebra gerada pelas raízes simples de multiplicidade um não contém, necessariamente, todos os espaços de raízes de multplicidade um.
Por fim, tenho usado esses resultados para calcular coisas do seguinte tipo: tome uma raiz de multiplicidade um e olhe a subálgebra-subgrupo (isomorfa a sl(2,R)) gerada pelo espaço de raízes dela e de sua negativa. A órbita desse subgrupo a partir da origem é um ponto ou um circulo S^1. Minha pergunta é o que esse S^1 representa no grupo fundamental. Isso é relvante para olhar o tipo parabólico de certos semigrupos e para a controlabilidade de sistemas de controle. Espero voltar a essas aplicações da topologia posteriormente.